Sobre a Rede


Brasil, 31 de maio de 2023.

OLHAR PARA O AUDIOVISUAL EXPANDIDO

Carta aberta da rede audiovisual expandido às instituições ligadas ao fomento de arte e cultura.


Existe uma produção audiovisual que certamente você conhece e tem visto com certa frequência por aí ocupando ruas, lugares e ambientes imersivos / interativos de forma muito peculiar. São projetos tão diversos e autênticos, e se utilizam de tantos recursos tecnológicos e do hibridismo com outras expressões artísticas que nem parece existir uma classificação que a compreenda.

Essa produção de arte contemporânea audiovisual está se desenvolvendo no mundo todo e tem o Brasil como país de destaque. Porém, ainda carecemos de maior compreensão e financiamento por parte de estruturas de fomento e difusão da arte e da cultura para desenvolver e qualificar toda um ecossistema formado por artistas, produtores, técnicos, fornecedores, pesquisadores, desenvolvedores de tecnologia, espaços culturais, museus, casas de espetáculo, festivais, entre tantos outros atores capazes de representar o nosso sotaque criativo dentro e fora do país.

Estamos falando do audiovisual expandido, uma expressão artística que transcende a formatos convencionais de produção e exibição audiovisual, para muito além do cinema, televisão e de outras mídias industriais, e que compreende manifestações como live cinema; projeções urbanas; videomapping; ambientes instalativos, imersivos e/ou interativos; experiências em realidade mista, aumentada ou virtual; além de assumir formatos híbridos junto a outros segmentos artísticos como o das artes sonora e do corpo.
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De fato, o vídeo hoje encontra-se em toda parte. Está presente em esculturas, instalações multimídia, ambientes, performances, intervenções urbanas, espetáculos, festivais, shows musicais e eventos. Acontece em lugares e espaços transitórios ou estruturados como ruas, aeroportos, galerias, salas de concertos, teatros, museus, fachadas, fulldomes (planetários / domos móveis), céus, praças públicas, viadutos, universidades, arenas de projeção, pistas de skate, etc. Onde houver um lugar passível de ser resignificado por luz e som, podemos imaginar ali uma produção desta arte audiovisual.

Historicamente, a produção audiovisual expandida e o cinema estiveram lado a lado desde o início quando, por exemplo, se realizavam sessões em cafés do séc. XIX com diferentes cinematógrafos para se fazer projeções simultâneas e até sobrepostas ao som de música ao vivo. Com o tempo, a evidente assimetria de investimentos no modelo exclusivo do cinema, fez com que as experiências não-industriais do audiovisual só viessem a ganhar mais evidência na década de 70 com a cena do "Cinema Expandido". Posteriormente ela se combinou com a arte computacional e com outras expressões artísticas até assumir a amplitude de linguagens convergentes que a caracteriza nos dias de hoje.

Exatamente por conta dessa sua natureza híbrida, e das confluências tecnológica e de linguagem, que essa expressão audiovisual se apresenta também como fator de expansão para os outros segmentos artístico já instituídos, sem que isso diminua a condição plena de o audiovisual expandido ser reconhecido um linguagem integral, muito antes de ser interpretado apenas como um recurso acessório. E é neste ponto que reside tanto sua riqueza quanto sua incompreensão enquanto linguagem absolutamente contemporânea que merece ser estimulada valorizando suas peculiaridades de manifestação.
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Sob essa mesma perspectiva, percebe-se que hoje já não é mais suficiente segmentar e catalogar as manifestações artísticas por gêneros, linguagens ou pelas mídias que as conformaríam. De fato, as próprias instituições de cultura têm considerado que as produções mais contemporâneas se movem hoje justamente por caminhos que se desprendem e até criticam tais tipos de segmentações que, no final, acabam enfatizando uma visão alheia aos processos artísticos pertinentes à atualidade.

O entendimento da complexidade do audiovisual expandido, como linguagem em constante movimento, é também mais um ponto dentre os diversos que questionam o sistema organizacional, de poderes e de valoração, dentro do circuito das artes. Sua compreensão, portanto, significa abraçar essa diversidade, promover a inclusão de expressões que ocorrem naturalmente fora das convenções, e perceber as perspectivas distribuídas do acontecimento audiovisual contemporâneo.
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Por isso, adotamos o termo Audiovisual Expandido, como expressão agregadora de uma produção diversa, potente e crescente, e cuja relevância na cultura brasileira - e do mundo - precisa ser legitimada também pelos vários âmbitos institucionais em que se insere.

É com esse olhar, que viemos aqui demandar recursos, processos e métodos de fomento, para potencializar justamente o desenvolvimento de expressões artísticas plenamente contemporâneas, com sotaque brasileiro e que dialogam com esse universo de possibilidades oferecido pelo audiovisual expandido.
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LISTA DE SIGNATÁRIES(em atualização, participe da assinatura desse documento)


Demétrio Portugal
Lucas Bambozzi
Marcus Vinicius Fainer Bastos
Karen Keppe
Fernando Velázquez
Dudu Tsuda
Rodrigo Corrêa Gontijo
Almir Almas
Charlie oliveira
ygor marotta
VJ Spetto San
Priscila Arantes
Paulo Fluxuz
André Ricardo do nascimento / Deco / Clássicos de calçada
Daniel Correia Ferreira Lima
Camille Laurent
Letícia Pantoja
Vic von Poser
Felipe Julián Goldfarb / Craca
Mary Gatis
Patrícia Moran
Achiles Luciano Teixeira Filho
tatiana giovannone travisani
Gustavo Milward
Geandre Tomazoni | Bijari
Gustavo Godoy
Bianca Turner
Sergio Sánchez/ Vj oigres. | .ALTav
Fernão Ciampa (EMBOLEX)
Rodrigo de Araujo
MXM Mirella Brandi x Muep Etmo
Mozart Santos @projetemos
eduzal / Eduardo Fernandes
Marina Pinheiro
Tania Fraga
Simone Michelin
Thais de Almeida Prado
Renato Nery
Ivaldo Brasil Junior
João Paulo Accacio / Jp Accacio
Marcio Villar da Silva Ramos
Carlos Gustavo Martins Xavier
Carolina Dias de Almeida Berger
Gabriel Furtado / Media Sana
Pedro Bayeux
Daniela Coutinho Magro
Renato Stockler
Fernando Sato / Sato do Brasil / casadalapa / Frente 3 de Fevereiro
Rogério Largman Borovik
Otavio Zocoler de Sousa
Renato "Nego" Lima
Antonio Brasiliano
Liliana Amaral
André Parente
Dino Vicente
Rejane Cantoni

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ALT[av] é uma rede criada com o objetivo de fomentar a produção artística e autoral do audiovisual expandido brasileiro, criando valor e identidade para um segmento que está num momento de grande crescimento em diversas cidades do mundo além de São Paulo.

Para tanto, desde 2013 a rede vem se especializando também como um espaço de representação e de qualificação do debate sobre essa nova cena cultural, principalmente junto à instituições e o setor público.